Para tentar definir o que é o corpo é preciso primeiro entender a complexidade que envolve todo o seu universo, e identificar quais são as suas dimensões e como ele funciona.
O mundo ocidental sofre a tempos com o paradigma de que o corpo físico esta separado do mundo das idéias e dos sentimentos. No seculo XVII Descartes filosofo e matemático frances afirma que o ser humano era dividido em um corpo físico (objetivo e aberto a ciência), e a alma (o mundo espiritual e sentimental).
O tema corporeidade se apresenta como proposta para a superação de um sistema mecanicista fragmentadora que impera desde os principios do desenvolvimento do ser humano. O movimento nesse sentido passa a ser refletido numa visão que considera a mente (inteligível) e o corpo (sensível) como dimensões indissociáveis, constituindo a unidade que é o ser humano.
Segundo Merleau-Ponty, quando o ser humano se depara com algo que se apresenta diante de sua consciência, ele analisa esse objeto em sua total sua forma, a partir de sua consciência perceptiva. Após perceber o objeto, este entra em sua consciência e passa a ser um fenômeno. Com a intenção de percebê-lo, o ser humano intui algo sobre ele, imagina-o em toda sua plenitude, e será capaz de descrever o que ele realmente é. Dessa forma, o conhecimento do fenômeno é gerado em torno do próprio fenômeno.
Para compreendermos o corpo como um todo, primeiro precisaremos entender o Pensamento Complexo de Edgar Morin, antropólogo, sociólogo e filósofo francês, autor de diversos livros, entre eles: O Método, Introdução ao Pensamento Complexo, Ciência com Consciência, e que também é considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade.
No pensamento complexo de Morin, esbarramos no entendimento de outros conceitos, entre eles os Operadores de Complexidade: (Operador Dialógico (diferente de dialético), Operador Recursivo, Operador Hologramático.)
- O Operador Dialógico envolve o relacionar coisas que aparentemente estão separadas: Exemplos:
Razão e Emoção
Sensível e Inteligível
O Real e o Imaginário
A Razão e os Mitos
A Ciência e a Arte
Trata-se da não existência de uma síntese. Tudo isto consiste o chamado dialogizar.
- O Operador Recursivo, trata principalmente do fato de que sempre aprendemos que uma causa “A” produz um efeito “B”. Na recursividade a causa produz um efeito, que por sua vez produz uma causa.
*Exemplo: Somos produto de uma união biológica, entre um homem e uma mulher e por nossa vez seremos geradores de outras uniões.
- O Operador Hologramático, trata de situações em que você não consiga separar a parte do todo, a parte está no todo, assim como o todo está na parte.
Usando esses três operadores, você cria a noção de totalidade, mas ao mesmo tempo, criará a concepção de que a simples soma das partes não leva a esse total. A totalidade é mais do que a soma das partes e simultaneamente menos que a soma das partes. Esses três operadores são as bases do pensamento complexo.
Juntar coisas que estavam separadas!
Fazer circular o efeito sobre a causa!
Idéia de Totalidade: Não dissociar a parte do todo. O todo está na parte assim como a parte está no todo.
* Nós somos considerados seres que:
Falam - Fabricam seus próprios instrumentos - Simbólicos, pois criamos nossos símbolos, nossos mitos, e nossas mentiras.
O pensamento complexo afirma também que, somos complexos. Isto porque fazemos parte de uma longa ordem biológica e porque somos produtores de cultura. Logo, somos 100% natureza e 100% cultura. O conhecimento complexo não está limitado à ciência, pois há na literatura, na poesia, nas artes, um profundo conhecimento. Todas as grandes obras de arte possuem um profundo pensamento sobre a vida. Segundo Morin, devemos romper com a noção de que devemos ter as artes de um lado e o pensamento científico do outro.
Temos também que ter conhecimento sobre o Anel Tetralógico ou Tetragrama Organizacional formulado por Morin que repensa a vida como uma uni-diversidade circular e espiral.
Qualquer atividade de seres vivos é guiada por uma ordem que envolve relações de:
-Ordem;
-Desordem;
-Interação;
-(re) Organização.
Unindo este tetragrama aos operadores de complexidade, temos as bases do pensamento complexo.
Temos que por desordem na ordem!
Temos que por ordem na desordem!
Nesse sentido, o pensamento complexo possibilita em termos lógicos, a construção de um pensamento que compreende a relação entre aspectos que até hoje são considerado distintos.
Diz Marx: “Qualquer reforma do ensino e da educação começa com a reforma dos educadores.” Esta é uma das citações mais utilizadas por Morin quando trata da questão do pensamento complexo e da reforma dos educadores no processo de criação de uma nova educação. A razão cartesiana impôs um paradigma. Ela nos ensinou a separar a razão da "des-razão". Temos que religar tudo o que a ciência cartesiana separou, segundo Morin
A proposta da complexidade é a abordagem transdisciplinar dos fenômenos, e a mudança de paradigma, abandonando o reducionismo que tem limitado a investigação científica em todos os campos, tomando o lugar à criatividade e ao caos. Ela trabalha também com o isolar e o ligar num circuito recorrente de conhecimento. Por isso não rejeita a simplificação e a disjunção da visão clássica mais torna principio relativo. Dessa mesma forma não rejeita a analise e o isolamento, mas obriga a incluí-lo não só num macro sistema, mas também num processo ativo e gerador.
* imagem captada pelo telescópio Hubble onde nuvens de gazes e particulas se fundem e criam pilares de massa que se formara em uma estrela
A corporeidade contribui para a superação de uma visão amplificadora (que separa o que esta ligada: disjunção) e o reducionista (que unifica o que e diferente) e alcançar a compreensão do caráter indissociável entre corpo, afetividade, mente e social, dimensões que constituem os seres humanos.
Prigore aponta a existência de uma "flecha do tempo", como , que conduz o Universo Físico (physis), o Universo da Vida (bios) e a Esfera Antropossocial a um processo de evolução com sucessíveis aumentos no grau da complexidade dos sistemas/organizações, a começar com a formação dos átomos, chegando ao nosso planeta, na espécie humana, e prolongando-se na possibilidade de um devir. Assim, em meio a uma complexidade caótica da-se uma relação, um encontro, e dessa forma um novo estagio da vida.
A corporeidade humana é, em um primeiro nível constituída pelo universo físico que tem sua origem na cosmogenese na criação dos átomos, estrelas e galáxias , ao mesmo tempo, a corporeidade e constituída pelo “bios”. Os primeiros seres vivos que conhecemos como detentores de auto-organização viva, são os unicelulares, a coporeidade humana (organismos pluricelulares) é uma organização emergente da organização viva físico-quimica.
O pensamento complexo que nos permite compreender que a corporeidade humana é uma emergência do processo de evolução que conduziu a “physis” e o “bios” e a esfera antropossocial a sucessivos aumentos no grau de complexidade dos sistemas/organizações, assim, a corporeidade constitui-se das dimensões:
-Física (Estruturas Orgânicas-Biofisica-Motora-Organizada de todas as dimensões humanas);
-Emocional/Afetiva (Instinto, Pulsão, Afeto);
-Mental/Espiritual (Cognição, Razão, Pensamentos, Idéias e Consciência);
-Sócio-Histórico-Cultural (Valores, Hábitos, Costumes, Sentidos, Significados e Simbolismos).
Todas as dimensões estão indissociadas na totalidade do ser humano, constituindo a sua corporeidade.
Assim acentuando que a corporeidade é o resultado complexo da articulação do universo físico, o universo da vida e o universo antropossical.
“Em síntese, a corporeidade humana nos permite compreender que somos animais de classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da família dos hominídeos, do gênero homo, da espécie sapiens, ou seja, somos seres humanos. Somos constituídos de diversos átomos, os quais constituem as moléculas, as células, os organismos, os seres humanos e as sociedades” Morin.
O Pensamento complexo propõe associar aquilo que era considerado antagônico, sem ignorar seu antagonismo. Mente e Corpo, Sensível e Inteligível, Emoção e Razão, Espírito e Matéria, nesse sentido devem estar religados para constituir a unidade, e isso acontece através de um árduo e incessante trabalho.
O desequilíbrio/problema é fundamental para que aconteçam novas aprendizagens. A desordem é um processo natural qua acompanha a vida. A ordem e a desordem se co-produzem. As relações que permitem as aprendizagen, seguem um principio de expanção e recolhimento indicando a necessidade de sai e entrar na “casa” (Conhecer a, conhecer-se, conhecer o outro, conhecer o que nasce a partir dessas relações.), somos seres que amparamos nossa aprendizagem nos processos sensório-perceptivos. Captamos estímulos atraves dos sentidos.
A Corporeidade, assim é algo que se realiza através da relação entre o mundo interior e exterior (auto-eco-organização). Uma Situação Problema, quando bem colocada gera um estado de desequilíbrio possitiva que se desdobrara em respostas que estimulam o processo de assimilação e acomodação, como bem fundamentou Piaget, Vivenciar uma situação problema envolve aspectos físicos, emocionais-afetivos, cognitivos sociais, e não apenas cognitivo, como se tem enfatizando nas interpretações do pensamento piagetiano para a educação.
Por meio do pensamento a consciência pode desdobrar-se em consciência da consciência, constituindo-se em um metaponto de vista, isto é, o sujeito pode se auto-observar, criando um “eu observador” ou a consciência de si.
A desordem integra o universo físico, o universo da vida e o universo antropossocial. A experiência intencional da desorganização e do caos é capaz de ampliar nossa percepção e “quebrar” nossos padrões mentais (crenças), nossa racionalidade, como também penetrar em camadas mais profundas do inconsciente.
O ciclo do anel tetralógico envolve desordem/caos, ordem, organização e desorganização, e cada finalização de um ciclo pode-se alcançar uma nova ordem e um novo patamar de compreensão, em relação a alguma questão.
Assim podemos entender o corpo, como uma unidade complexa, costitudida de Dimesões Física, Emocionais, Mentais e Histórico-Sócio-Cultural que se relaciona com o mundo através de um complexo sistema que é a Sociedade. Todas essas dimensões de Auto-Completam e são Indisociadas, uma fazendo parte da outra, sua compreensão nos faz perceber algo que estava enraizado em nossa essência e eleva o ser humano a um metodo mais complexo de estudo, ao entendermos as diferentes ações, reações, sensações, conclusões, dimensões e funcionamento do corpo humano, poderemos entender melhor a vida que nos fazemos parte e como ocupamos o nosso lugar no mundo, evoluindo constantemente, sujeito ao acaso, as novas experiências e entendimentos.
Referências:
JOÃO & BRITTO – pensando a corporeidade em uma educação física a luz do pensamento complexo
MORIN – Introdução ao pensamento complexo
PRIOGOGINE – O fim das certezas
FREIRE – De corpo e Alma
MEDINA – A Ed. Física cuida do corpo... e mente
*Imagens ALEX GREY
Texto muito bom; utilizei-o nas minhas aulas de Bioética
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